Thursday, December 01, 2005

Zeza





Zeza, meu anjo!
Porque paraste de correr pelos montes na tua tenra juventude?
Teus cabelos loiros e teu corpo franzino lembram a ternura da natureza inteira.
Teu sorriso inocente e teus olhos azuis, que já não são azuis...
Porque se fecharam?
E as tuas tranças quando pendiam...
Porque pararam de esvoaçar ao vento?
- Ninguém mexe na minha filha...gritava teu pai.
- Ninguém mexe na minha filha, repetia com desespero.
Mas tu indiferente, lívida e serena, rodeada de gente, deitada sob a relva, à beira do rio, parecias resumir a essência do universo nos teus lábios roxos.
Sob as águas, teus braços juntos, lembravam uma prece...
E as águas tão límpidas naquela tarde de domingo de verão como a tua pureza de criança a despertar na juventude.
Zeza, meu anjo...
Ainda tocam por vezes as sirenes nas tardes quentes de Verão na tua terra.
Ainda correm agitadas as águas das cheias do rio Tâmega no Outono e Inverno, mas tu já não corres alegre na Primavera...
Recebe o meu abraço e voa comigo pela vida fora...
Veremos acidentes, desastres, tempestades....mas o sol continuará dia após dia a iluminar as árvores e as plantas.
E os peixes continuarão a nadar no rio onde tua mãe ia lavar.
Zeza, meu anjo, vou dizer-te um segredo...
Renasceste à muito na minha alma.
Podes dizê-lo ao vento, às ondas do mar ou às núvens, mas não o digas a ninguém.
Viverás sempre como recordação doce em minha vida...
Zeza, meu anjo, abre as tuas asas e abraça-me.
Adormece-me nesta noite de insónia e continuarei depois desfiando pétala a pétala o rosário da vida, contigo meu anjo, até à eternidade.
........
A Zeza nasceu em 5 de Agosto de 1951 e faleceu no domingo à tarde dia 12 de Julho de 1964, por afogamento no rio Tâmega em Amarante. Seus restos mortais repousam no cemitério de Amarante.